fotografia | Rui Valido
Maio já era e foi, muito provavelmente o mês em que vim aqui menos vezes escrever. Alguns de vós sentiu isso e até questionou, de forma muito simpática, essa ausência. Há alturas na nossa vida em que sentimos que não temos muito a acrescentar. Sentimos dúvidas, medos, tristeza, revolta e, quando estou assim, perdoem-me mas sinto que devo resguardar-me. Recuperar forças para voltar melhor.
Ainda ontem aqui estive mais de duas horas sem ser capaz de escrever uma palavra de jeito. Não gosto de inventar motivo, de dizer coisas sem sentido. Escrevi, apaguei, voltei a escrever, voltei a apagar e percebi que não conseguia. Admitir as nossas fraquezas não é sinal de inferioridade. A muito custo e por experiência própria aprendi isto.
Sinto-me cansada do que vejo à minha volta. De perceber e sentir que, por mais que me esforce e que tente fazer as coisas da forma correcta, simplesmente isso nunca é tido em conta para nada.
Em tom de desabafo com um amiga, dizia-lhe eu que Maio tinha sido um mês muito mau, ao qual ela me tentou contestar dizendo que tinham aparecido duas coisas minhas, muito boas, em duas revistas importantes. Verdade. Não nego, não finjo que isso tenha sido importante e que me tenha feito feliz. Fez muito e sinto orgulho de mim mesma, que é outra das coisas que fui aprendendo sozinha.
Entrando no mês seis do ano, sinto-me já obrigada a fazer um balanço daquilo que têm sido os meus dias. Em muitos deles senti uma enorme vontade de voltar a mudar. Voltar a sentir alguma estabilidade. Custa-me, cada vez mais, viver inserida numa sociedade que cataloga tanto as pessoas, que as discrimina, que funciona por grupos, amizades e interesses. Perceber que, por melhor que possas ser ou fazer, nunca és suficientemente boa para entrar naquele mundo. Ou que o teu trabalho ou talento é medido, cada vez mais, pelo número de likes e de pessoas que te seguem.
Se falas, é porque falas e devias ter ficado calada, se ficas calada é como se não existisses. Sinto-me constantemente uma peça de roupa que nunca fica perfeita naquele cabide. E viver assim custa muito, lidar e gerir a minha ansiedade diária vai-me destruindo aos poucos.
Que mundo é este em que a palavra influencer ganha, cada vez mais, um significado tão tonto, tão vazio, tão sem conteúdo. Tanto se fala em ser real, em nos assumirmos do jeito que somos, mas a bom rigor é tudo bullshit porque, no final do dia, as pessoas querem mesmo consumir aquele conteúdo pré-fabricado, usado por um grupo de miúdas, todas elas com a mesma postura, o mesmo filtro e o mesmo discurso.
Não me julguem, não quero parecer nenhum velho do Restelo, mas há alturas em que é impossível não nos sentirmos magoados com tanta falta de profissionalismo ou com tanta injustiça. Um dia somos as maiores para apoiar determinada pessoa, agência, marca, seja o que for ... no dia seguinte, passámos à história, ninguém mais lembra o nosso nome. Será muito provavelmente a lei da vida e sou eu quem terá de se habituar ou adequar a esta realidade.
Toda a minha vida está diferente, os meus olhos, o meu coração, o meu sentir.
Não consigo nem quero viver mais de coisas poucas. Pouco amor, pouco afecto, pouca atenção, pouco trabalho, pouco reconhecimento.
Sinto que preciso de colo. De muito colo.
Cabe-me a mim, obviamente, definir o meu rumo, o meu caminho. Sinto medo do futuro mas sinto uma tristeza maior pelo presente que vivo.
Olho à volta e sinto que a maioria dos meus amigos mais antigos nunca ou quase nunca me questiona nada, nunca partilha uma coisa a meu respeito, nunca me parabeniza por algo que eu tenha feito, por mais simples que seja. Gosto de continuar acreditar que devemos apoiar os nossos, sempre. E gosto de acreditar que , apesar da enorme correria que são os nossos dias, continua a haver tempo para amar.
A quem conseguiu ter paciência de ler até ao fim este desabafo o meu enorme e sentido obrigada.
Vocês são, muitas vezes, quem me dá conforto e acreditem que me sinto profundamente grata por isso.
Não sei o que aí vem, não sei mesmo. Tenho algumas ideias que gostava mito de concretizar e que também vão depender de vocês, de certa forma. O que vier que seja bom e que me faça feliz. No final do dia é isto que mais importa, eu só quero ser feliz e fazer feliz quem de mim gosta.
Até já,
Com amor,
Mia
O quanto gosto de “te” ler ❤️
ResponderExcluirGosto deste à vontade para o tratamento tão pessoal,quase de amizade, que se cria depois de tantos anos a ler e ver os teus posts!
Obrigada por continuares por aqui ��
Acho que nunca comentei o blog da Mia e hoje estava a lê-la e pensei "é hoje" porque embora "a siga" há muito tempo, a verdade é que só de há uns tempos para cá me tenho identificado com o seu mundo por sentir que temos tanto em comum como de diferente (não vamos comentar a guerra ao pão). Escrevo com carinho por si e pelo seu percurso e é com o mesmo carinho que desejo do fundo do coração que a vida lhe sorria a si e aos seus planos futuros. Afinal que somos nós se não tivermos sonhos e se não os transformamos em objetivos que nos desafiam a superar-nos e a dar o melhor de nós? Quanto ao que está e quem está em nosso redor, não há muito que fazer, é permitir que a vida trate do assunto com a sua seleção natural, e é desejar-lhe a eles o dobro que nos desejam a nós. Permita-se sonhar e voar, ganhe asas e lance-se rodeada de quem lhe quer bem!! Um beijinho. Leila
ExcluirUm beijinho grande!! Vou estando por aqui! Gosto muito de ler os teus posts. . Obrigado 😘😘
ResponderExcluirMas, Mia, é essa "luta" interior que nos mantém vivas, esses desafios são sempre para crescermos, para sermos pessoas melhores, mais fortes e resilientes. Se tudo fosse de mão beijada, aí sim, seria uma "bullshit" sem graça. Embora lá mostrar como é, que somos mais fortes hoje do que ontem, e que não temos medo de falhar amanhã pois aí, na adversidade, voltaremos à carga.
ResponderExcluirMia, toca a seguir em frente... ás vezes não é fácil mas acredito que consegue.. beijinho no coração ❤️
ResponderExcluirGosto de ti porque gosto gosto de ti porque sim... gosto de porque és tu assim verdadeira sem máscaras sem filtros e influências de forma positiva tanta gente!! Gosto pq n vendes qq coisa gosto pq n vives para os likes ou para a sociedade aka (not) influencers digamos pessoas c mts seguidores q n “vendem” m***** nenhuma nem conteúdo nem nada inteligente de se ler!!! Gosto de acreditar que as melhores “influências” vão ficar... e tu és uma delas...
ResponderExcluirObrigada por não desistires mesmo quando o cansaço emocional fala mais alto. Os teus posts são inspiradores para todos os que te seguem és genuína e é impossível não criar um carinho enorme por ti e por cada partilha tua.
ResponderExcluirum beijinho
Como te entendo Mia. Ser "diferente" ter outro conteúdo muitas vezes não é fácil. Mas, o mais importante é mantermos fieis ao que somos e ao que nos distingue, mesmo que isto não seja sinonimo de muitos seguidores e likes. Desistir já me passou pela cabeça, várias vezes até, mas ainda por aqui ando com as minhas publicações,com a regularidade possível de quem trabalha full time. Muitos Parabéns pelas recentes publicações em Revistas de renome. Keep Strong. Beijinho Grande
ResponderExcluirGosto imenso de a seguir, pois é uma pessoa transparente! Felicidades!
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