Fotografia: Diogo Beja
A três dias de receber os quarenta anos de vida é assim que me vejo, aliás é assim que mais gosto de me ver agora. E se alguém me dissesse que seria possível eu chegar até aqui certamente soltaria uma enorme gargalhada e encolheria os ombros ... alguma vez?!
Que viagem incrível! Se me perguntarem o que fiz ou como fiz este caminho (ou como na verdade ainda o faço, todos os dias) nem vos sei explicar ... a relação mais difícil que tive até hoje foi, sem qualquer sombra de dúvida, a relação comigo mesma. E atenção, ainda existem alguns dias em que ando às turras com o espelho, em que não me sinto confortável com alguma parte do meu corpo mas a diferença é que hoje sei que isso é passageiro e sei que não afecta mais a minha forma de viver, comigo e com os outros. Isso já não me impede de ser feliz. Isso já não me impede de viver.
Há qualquer coisa de mágico quando somos capazes de nos aceitar, na verdade é como se a partir daí tudo ganhasse sentido. Foi isso mesmo que comecei a sentir quando me olho ao espelho pela manhã, quando vejo e aceito a minha pele com todas as suas manchas e imperfeiçōes, quando mesmo assim prefiro não esconder nada com make up e encarar o dia e as pessoas, assim mesmo, de cara lavada. Quando mesmo assim consigo achar-me bonita. Quando os meus olhos sorriem. Quando saio do duche e consigo olhar o meu corpo sem a vergonha que durante tantos anos senti.
Hoje antes de apontar defeitos prefiro olhar e agradecer o que de bom tenho, a pessoa na qual me tornei, a paz que os meus dias finalmente alcançaram, o amor que me salvou. Porque saber confiar nas voltas que a vida dá e acreditar que é possível sermos capazes de gostar de nós como gostamos dos outros, é saber valorizar-nos, é saber aceitarmo-nos, com tudo o que temos de bom e de menos bom.
É esta leveza que quero para os meus dias, é esta paz que quero que paire sempre à minha volta. A vida, essa vida que tantas vezes me surpreendeu mostrou-me que é possível ser ainda mais feliz. E eu só posso sentir-me grata e sorrir, sorrir muito, sorrir sempre.
Com 39 ou 40 o importante é o que vivi até hoje, o que os meus olhos conseguem tanta vez transmitir em tantos silênciosmeus, é a alegria que sinto todos os dias ao acordar para ir trabalhar, é a felicidade de regressar para casa e ter a pessoa que eu amo à minha espera para me abraçar. Porque só isto importa verdadeiramente no final do dia.
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