OBRIGADA CRISTINA

15 de janeiro de 2019

Queria ter sido capaz de escrever este post a semana passada, ainda com todas as emoçōes à flor da pele, com o coração a mil mas a verdade é que os meus dias têm sido vividos a uma velocidade à qual estou a ter alguma dificuldade de acompanhar e sei que tenho tido pouco tempo para vir aqui. Mas este post é tudo, mas tudo menos, uma queixa ou algo negativo, muito pelo contrario. O que mais quero passar aqui é o quão grata estou por tanta coisa boa que me tem acontecido nos últimos tempos ou de como o ano começou de uma forma tão boa para mim.

Cerca de duas semanas antes do Natal o meu tmv tocou pela hora de almoço e o convite surgiu. Da mesma forma que fiquei feliz fiquei nervosa. Nunca escondi para ninguém, aliás "'farto-me" de dizer vezes sem conta, o quão admiradora sou da Cristina e do seu percurso. Poder visitar a sua casa nova e estar à conversa com ela seria bom demais, não o nego. Da mesma forma que não nego a ansiedade em que fiquei quando soube que o propósito seria partilhar um pouco daquilo que senti e ainda sinto relativamente à morte do meu Pai. Um ano e qualquer coisa depois, continua a ser um tema que me faz tremer a voz, que deixa os meus olhos a brilhar e altera a minha respiração. Falar de algo tão intimo e que ainda se encontra tão longe de ser um assunto arrumado (se é que alguma vez o foi sentir dessa forma), não é fácil, de todo. Como uma grande amiga minha me disse no dia antes, eu iria estar a falar para o país sobre esta dor que ainda vive tão dentro de mim, que ainda afecta tanto os meus dias, e desta saudade que, à medida que o tempo passa, parece magoar mais. Não vos minto, foi precisa coragem mas, agora que sei que consegui, há uma parte de mim que sente orgulho por ter podido falar do meu Pai para tanta gente.

No momento em que entrei na casa da Cristina e a vejo a olhar para mim e dizer '' Olá Mia", soltando aquele sorriso tão característico confesso que senti o meu ritmo cardíaco a voltar à normalidade, como se de certa forma ficasse um pouco mais calma. Vou ser o mais sincera possível, eu adoro televisão, era tudo o que mais gostava de fazer na vida desde miúda, era o curso que adorava ter tirado e, nas várias vezes que vou gravar ao Tesouros, por exemplo, já sinto um à vontade tão normal que é tudo super tranquilo e natural para mim. Ali, neste programa, em directo (algo que nunca tinha feito) e a falar de um assunto tão delicado, estava efectivamente cheia de medo ou de receio, receio de não me aguentar, de chorar, de me faltar a voz. Receio pela minha família, porque é um assunto que nos diz respeito a todos e que iria ser exposto em televisão. Tive muito receio pela minha mãe porque sei que anda, novamente, numa fase muito frágil mas, tal como disse a Cristina e tanta gente à minha volta, partilhar esta dor, esta vivência, pode, de certa forma, ajudar outras pessoas que estão a viver ou a sentir o mesmo, e que muitas vezes se sentem tão ou mais sozinhas do que eu. Porque como tantas vezes vos digo, esta é uma dor que infelizmente só quem vive sabe o quão dura é. Cada um lida com a dor da melhor forma que consegue e sabe, somos todos diferentes, e não reagimos às coisas da mesma forma mas, acima de tudo, acho que devemos respeitar a dor de quem passa por um processo destes, a nossa vida nunca mais volta a ser a mesma, nunca mais. Disso não tenham dúvidas. 

Estive ao lado de pessoas que viveram o mesmo que eu e percebi que o tempo nem sempre ajuda. Foram três partilhas sinceras que estou certa de que custaram muito, às três, da mesma forma.
Durante o resto do dia, e posso confessar que até agora, quase uma semana depois, a minha caixa de msg continua muito mas muito cheia. Ainda não vos conseguir ler a todas. Ainda não consegui agradecer de forma devida. Mas acreditem que estou a tentar fazê-lo e que me sinto profundamente grata por vos ter comigo. Tenho-me cruzado com pessoas maravilhosas neste mundo das redes sociais, tenho recebido um carinho que não esqueço e que tantas vezes me dá força e alento para seguir os meus dias de forma positiva.

Somos muitas e muitos a viver a mesma dor, tantas e tantas vezes em silêncio e acho que poder partilhar com tantas pessoas aquilo que me vai na alma fez com que me sentisse mais leve.
No final desse dia, ao chegar a casa, coloquei o programa para trás para poder ver tudo. Chorei muito. Muito mesmo. A verdade é que esse dia foi muito intenso a nível emocional, e acho que só quando me deitei e comecei a pensar em tudo é que percebi bem a intensidade que vivi.

No dia seguinte (e até mesmo seguintes), muitas pessoas, algumas até conhecidas e do meu meio, apenas queriam saber que efeito tinha eu sentido ao ir ao Programa da Cristina, explicando melhor, o que é que isso me trouxe de bom, a nível de visibilidade, de números nas redes sociais, de potenciais convites ... enfim, as pessoas já não me surpreendem. Juro. Ninguém quis saber se me custou ou não sentar ali, naquele sofá e falar em directo sobre o que é continuar a viver sem a maior figura e exemplo de pessoa que eu tinha na vida. Óbvio que os meus, família e amigos, tiveram essa preocupação e sentiram a mesma emoção que eu. Sei que a minha Mãe sentiu orgulho em perceber que a filha estaria a ajudar outras pessoas mas sei também que se sentiu um pouco invadida. É normal, absolutamente normal. 

















fotografias: Rui Valido

E para terminar queria apenas partilhar que, muito provavelm pela primeira vez desde que perdi o meu Pai, tenha sido capaz de o sentir a meu lado. Naquele dia, depois da entrevista e a caminho de casa, senti que ele me acompanhou sempre naquele percurso e que estaria orgulhoso de mim.

Obrigada uma vez mais à Cristina, pelo convite e oportunidade. Obrigada também a cada um de vocês que está comigo e que tantas vezes me dá força e carinho. Um carinho que nem sei como agradecer. 
A vida tem muita coisa boa e que eu, mesmo nos dias mais escuros, continue a conseguir praticar este exercício de gratidão que é sentir que nunca estou sozinha e que tenho muita gente boa a meu lado.

Um enorme beijo no vosso coração,
Mia 



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