Escrevo este post em tempo real mas a realidade que descrevo aqui não aconteceu hoje, graças a Deus.
Tratava-se do sétimo dia de isolamento, ainda que a trabalhar por casa, confesso que torna-se difícil arranjar motivação para sair da cama. Mas a pessoa lá vai, quase obrigada e com muito pouca vontade de sorrir à vida.
Eu não fui feita para quarentenas. Não fui mesmo e nem era preciso passar por este teste para ter essa certeza.
Com a idade fui gostando, cada vez mais, de estar no conforto do meu lar, mas sem sentir qualquer obrigação em ficar dias e dias fechada. Eu gosto de rua, gosto de me cruzar com pessoas, gosto de me sentar numa esplanada e, enquanto bebo um café, observar o que acontece à minha volta.
Gosto de sentir o sol a bater-me no rosto, gosto de andar a pé pelo bairro, gosto de sair de casa nem que seja só para comprar pão ou flores frescas.
Durante todo este isolamento obrigatório, nunca me senti tão afastada das redes sociais. Logo eu que, curiosamente também vivo delas. E, como tudo isto começa a preocupar-me muito, toda a incerteza do futuro, a instabilidade, acabo por sentir menos vontade de estar online.
Impressão minha ou parece existir toda um To do List a seguir e cumprir desta quarentena que eu ando totalmente a falhar?
Parece que anda tudo a competir: as melhores panquecas, a melhor make up, o melhor plano de exercício, a melhor casa...
Sorry, não consigo. E perdoem-me ser tão diferente da maior parte das contas de instagram que sigo e que, neste momento, parecem todas canais de puro entretenimento, 24 horas por dia.
A verdade é que nunca me senti tão pouco produtiva e sem inspiração, como agora.
Tenho zero problemas em admiti-lo. Sempre quis que o conteúdo que partilho fosse real. E a realidade é que ao sétimo dia fechada em casa, não tirei o pijama, andei entre a cozinha e o sofá, com a cabeça perdida em pensamentos e lembranças. Chorei, discuti, voltei a chorar e voltei a discutir.
Dou por mim a evitar os espelhos. Já não me recordo da última vez que tinha lavado a cabeça em casa, já não me recordava de como me sentia feia com um cabelo "ao natural". Com um cabelo que precisa urgentemente ser pintado, não fossem estes brancos que crescem a uma velocidade furiosa.
Todos estes "dramas" vividos e partilhados com um namorado que está comigo faz já alguns meses, mas que nunca me tinha visto assim. E agora, nestes dias que parecem não ter fim, não existem filtros que nos façam sentir mais bonitas. O melhor filtro que podemos usar é o amor, e é neste amor que tenho tentado buscar força e esperança de que tudo isto irá passar e, daqui a pouco, voltaremos à normalidade daquilo que eram os nossos dias.
Nunca me pareceu tão importante praticar o exercício da gratidão como agora. E eu sou grata a este amor que me chegou na melhor hora e que tem feito de mim uma pessoa melhor, mais feliz. Este amor que me acha bonita de todas as formas.
Nunca poder olhar os olhos de quem amamos e sorrir, me pareceu tão perfeito, como se mais nada importasse. Nunca o poder deitar-me naquele abraço e adormecer segura me pareceu tão suficiente.
Sinto que se sobrevivermos a tudo isto já nada nos separa, para o resto da vida.
Eu sou uma pessoa que vive com ansiedade há anos e que tenta gerir tudo isto da melhor forma possível mas que admite que, por agora, não está a ser capaz.
Temos todos, neste momento, de ficar em casa, protegermo-nos e proteger o outro mas não temos todos de lidar da mesma maneira com esta situação e isso não faz de nós nem melhores nem piores pessoas.
Estamos todos com saudades dos dias normais, dos abraços da família, do colo da nossa mãe, da ida ao cinema ou até do bate pé nas lojas dos centros comerciais. Estamos todos assustados. E nunca foi tão urgente acreditar e ter fé.
Escrevi todo este texto ainda de pijama, interrompi-o várias vezes, umas porque me faltaram as palavras, porque precisei de tomar um café à janela ou porque me apeteceu sorrir ao Diogo, que partilha a sala comigo enquanto faz a emissão da rádio, no entanto fica a certeza de que o pijama vai ser trocado por roupa normal e que vou fazer de tudo para que o meu sorriso seja uma constante neste sábado, o décimo dia deste isolamento.
Vai ficar tudo bem.
Obrigada pela companhia que me fazem, todos os dias.
Com amor,
Mia
Tenho ido trabalhar durante a semana, evito sair de casa além disso, por isso sábados e domingos têm sido sempre por casa. Não estou acostumada a isto também, e custa sim! Ufaaaa
ResponderExcluirKiss kiss.*Jo
Jo & Company Style