Não sou a pessoa que mais ame falar ao tmv mas, se há hábito que ganhei nos últimos tempos foi o de enviar msg voz (via whatsapp) a algumas das minhas pessoas. Aquela msg de bom dia que depressa se torna num verdadeiro podcast de tão longa que é e onde queremos contar tudo e mais um par de botas que nos aconteceu na noite passada ou aquele olázinho básico só para dizer que temos saudades!
A maior parte das vezes gravo-as no carro, tornaram-se numa ajuda preciosa para não me irritar tanto com o tempo que passamos em trânsito. Hoje, num desses meus trajectos, "falava" com uma das minhas melhores amigas, entre desabafos, queixas, piadas e algumas asneiras que não resisto soltar sempre que alguém menos dotado da arte de conduzir se cruza no meu caminho, consegui colocar algumas coisas em dia que queria muito que ela soubesse.
Não sei quanto a vós, mas eu sou das que enviam estas msg e depois vai ouvir tudo, do princípio ao fim, para ver se faz sentido ou não. E assim aconteceu hoje, com a msg enviada à M., e, aqui entre nós, nem consegui chegar ao fim de tão irritada que me sentia comigo mesma. Que confusão de palavras, de ideias, de sentimentos.
Fiz uma pausa e ponderei eliminar a mesma, visto que ela ainda não a tinha descarregado. Mas depressa percebi que, de facto, eu assumi, mais do que uma vez, na mesma msg, que estava confusa, que eu mesma não me estava a ser capaz de entender. Raios!
Vim para casa, liguei o computador e tentei dar resposta a alguns emails pendentes. Nem 10 minutos depois estava numa outra divisão da casa a arrumar tralha. Que confusão tão grande, que falta de concentração, que sentimento de vazio tão estranho.
Nunca senti a vida tão perdida como sinto agora. De manhã faz sol e de tarde é um dia de inverno. Não há consistência, não há paz, não há tranquilidade.
Como é possível chegar aos 38 anos e não saber que rumo dar à maior parte dos nossos dias?
A bom rigor sinto que a vida me vai beliscando, algumas vezes, dando-me sinais de que tenho de avançar, de que tenho de seguir um caminho, mesmo que mais tarde me possa arrepender da minha escolha.
Quantas vezes o medo nos impede de sermos felizes, de arriscarmos, de tentarmos a nossa sorte? É assim que me tenho sentido. Em muitos dos meus dias sinto que estou a boicotar a minha sorte, a minha felicidade ou até algumas coisas que quis a vida que eu pudesse viver de novo. Talvez porque não me sinta merecedora disso, talvez porque me encontre numa fase em deixei de gostar de mim, onde não consigo ver a minha luz ou aquele brilho que encontrava sempre que me via ao espelho.
Dou por mim a questionar imenso as minhas capacidades, a hesitar nas mais pequenas coisas.
Como muitos de vós tem percebido, deixei de alimentar as minhas redes sociais da forma que era já um hábito meu. Muitas vezes porque me falta a inspiração ou porque não sinto aquela histeria toda em vir dizer olá ao mundo com um sorriso nos lábios. As pessoas querem ver coisas bonitaa, querem sonhar, querem poder invejar sem (ou com alguma) maldade aquele unboxing, querem companhia enquanto comem uma refeição rápida e solitária na praça de restauração do centro comercial, as pessoas querem rir de uma piada tonta ou cuscar um belo de um look do dia comprado na zara desta vida! Querem tudo menos ver alguém que traz a tristeza toda marcada no olhar e que não sabe mais o que fazer para disfarçar, ou alguém que tanto aparece hoje como só volta daqui a quinze dias sem qualquer aviso prévio. As pessoas tanto querem verdade como adoram a bela da novela mexicana ou até mesmo uma portuguesa ao estilo que a TVI já nos habituou.
Anda tudo depressa demais, hoje somos as maiores e amanhã, só porque a nossa vida afinal não é cor de rosa e parece andar testar-nos constantemente, já ninguém quer saber de nós, já ninguém parece conhecer mais a nossa história, como tudo começou, do que somos feitos.
E permitam-me que vos diga isto com a maior das sinceridade mas eu já não quero saber disso. Muito do conteúdo que vejo deixou de me interessar. Muitas das coisas que eu própria partilhava não me vejo a fazer mais. E custa-me zero admitir. É apenas sinal de que alguma coisa mudou em mim e eu só posso sentir que para melhor.
Não sei o que me espera para o dia de amanhã, se me vai apetecer dizer parvoíces, cantar no carro, gritar que estou apaixonada ou simplesmente partilhar o meu café da manhã. Sei que, em todos os meus registos, uns mais felizes que outros, serei sempre a mesma, com o mesmo coração e com a mesma verdade no olhar.
Interrompi algumas vezes este desabafo...
Trouxe um chá para junto de mim para me fazer companhia. Coloquei uma música bonita para me inspirar. Fechei os olhos e recordei algumas pessoas de quem gosto muito e que me são especiais. Pessoas que suportam os nossos dias menos bons e respeitam os nossos silêncios.
Sei a sorte que tenho. A vida deu-me um coração grato que espero manter sempre.
Por mais que nos tentem dizer o contrário, não tem mal nenhum, sentirmo-nos perdidos. Como se a nossa bússula tivesse deixado de funcionar.
E, tenhamos 20, 30 ou 40 anos às vezes precisamos mesmo de um tempo que nos ajude a perceber o que queremos mudar, substituir e até deixar.
É preciso coragem para ser feliz. É preciso coragem para correr atrás. E é preciso acreditar que merecemos tudo o que de bom a vida nos quiser oferecer.
Ás vezes é mesmo preciso iniciar um novo ciclo e confiar nas voltas que a vida.
Com amor,
Mia
Eu gosto sempre de a ler Mia. Seja com palavras alegres ou tristeza no olhar, mas sempre com a sua verdade. Um beijinho enorme
ResponderExcluirDê cá a mão! Parece que está na minha cabeça. Gosto de si ❤
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