Nem me recordo de qual foi o meu pensamento quando percebi que não ia ter férias este ano. Não adianta avançar com motivos ou algo do género, há coisas que temos apenas de aceitar e levar da melhor forma que formos capazes. E é isso mesmo que tenho feito, uns dias a dormir muito pouco, noutros um bocadinho mais e a gestão de algumas mudanças de humor e paciência. Faz tudo parte menos queixar-me diariamente disso. Isso foi sempre que algo que tentei não fazer. Porque adianta zero e só piora tudo, só faz com que tudo fique menos fácil.
Se sinto o meu corpo a pedir descanso? Sim, sinto, mas muito mais do que o corpo sinto que a minha cabeça precisava de ser capaz de desligar por um pouco. Só um pouco. Dou por mim, inconscientemente a fugir de pensamentos, de pontas soltas na minha cabeça, de memórias que preciso muito de arrumar de vez.
Nas últimas semanas tenho partilhado convosco o drama das obras à minha volta, o barulho constante e insuportável e a enorme dificuldade que é trabalhar com essa banda sonora a gritar-me na cabeça. Hoje mesmo, eram 7h50 e já tinha começado o concerto, tinha dormido super mal e levantei-me furiosa, tirei o primeiro café do dia e enquanto ele arrefecia veio-me à memória uma coisa muito boa e. quando dei por mim, já tinha soltado um enorme sorriso. Não vale a pena demorar-me no queixume, no que não tenho, no que não posso e muito menos em coisas que não me cabe a mim alterar. Passo a vida a dizer que perdemos tempo demais em coisas de menos porque é mesmo isso que sinto. Agora os que regressaram dos quinze dias de férias não vão saber fazer outra coisa que não seja dizer mal do trabalho e do regresso às rotinas, e os que começaram ainda agora o bem bom já se estão a queixar da falta de calor (que por acaso até parece ter vindo para ficar). E os que não chegam a ir? Não terão ainda mais motivo para se queixar? Eu lá vou tendo os meus momentos, muitos deles em silêncio, mas também os tenho. Mas percebi que não ganho nada com isso, só mais frustração e stress e isso meus amigos, eu não preciso, já basta ter de saber lidar com a minha ansiedade diária.
Vamos todos tentar ser um bocadinho mais gratos pelo que temos. Mais agradecidos à vida, principalmente pelas coisas simples, as que quase nunca parecem ter importância mas que fazem tanta diferença nos nossos dias. Vamos todos ser capazes de sorrir mais, abraçar mais, amar mais.
Tenho trocado os dias de praia usuais de Agosto, por dias de trabalho, tenho escrito mais, tenho produzido mais, tenho feito muitos rascunhos de coisas boas que gostava muito de ver acontecer em Setembro. Tenho tentado colocar-me mais vezes como prioridade mas sem nunca deixar de ter tempo para os meus. Tenho dito "gosto de ti" às pessoas que amo, tenho dados abraços, tenho ouvido música descalça pela casa. Tenho observado mais o que realmente importa e tenho criado, cada vez menos, expectativa sobre a vida e sobre aquilo que ela reserva para mim. É o chamado viver um dia de cada vez. E que bem me tem sabido.
Boa semana e, se for caso disso, boas férias!
Com amor,
Mia
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