No outro dia, numa pausa no escritório, falava-se de filhos e do quão tardia se tornou a maternidade nos dias de hoje. Sim, o país precisa de crianças mas sim, esse mesmo país não cria condições para que tal seja possível.
Hoje em dia, ter emprego é quase um luxo. Vivemos assustados constantemente com as noticias diárias. Fazemos (quase todos) contas de cabeça ao que recebemos e vemos o dinheiro quase que escorregar pelas mãos.
Estou casada faz este ano 8 anos. Já perdi a conta à quantidade de vezes que me perguntaram "então e bebés?!", assim como já perdi a conta as mais variadas respostas que fui dando, umas menos simpáticas do que as outras. Isto porque as pessoas partem do pressuposto que temos todos que desejar o mesmo na vida, que todas nós mulheres sonhamos com a maternidade ou até chegamos a casar só para alcançar esse fim.
Mas na verdade acho que as pessoas têm é mesmo que dizer sempre alguma coisa. Porque mesmo quando se já tem uma criança, a pergunta que se segue é " agora já só falta um mano/a"!! Really?? E se eu quiser um filho único? Mimado! Sim!! Não, não posso! "Venha mais um menina, afinal tudo se cria!! " ( e, sobre esta última frase muito poderia eu escrever!).
Comigo está longe de ser assim. Nunca tive esse desejo, ou pelo menos nunca foi um sonho que gostasse de realizar com rapidez. Casar sim, era um sonho. Encontrar alguém que me fizesse feliz e que me provasse que o amor comanda a vida (mesmo nos dias mais difíceis).
Tenho dois sobrinhos que amo de paixão. Sinto-me sempre abençoada quando estou com eles e fico sempre com a sensação que nos dão tanto com gestos tão simples.
Até há pouco tempo atrás nunca senti qualquer tipo de vazio na minha vida, na minha relação, na minha família. Nunca senti o "falta aqui mais qualquer coisa...".
Já me chamaram de tudo , que sou egoísta, que não quero perder a boa vida, o domingo à tarde no sofá e as saídas para dançar à noite. Que seja. Mas da mesma forma que respeito quem quer ter filhos, gostava que soubessem respeitar quem não tem a mesma ambição ou pelo menos, no timing em que acham mais correcto.
Aquilo que mais me custa a entender e a aceitar é que me achem uma pessoa menos feliz ou menos interessante só por não ter filhos. Isso nunca, até porque antes de ser mãe, sou mulher. Tenho vontade e personalidade próprias.
Também me faz impressão as mulheres que quase se anulam, que tantas vezes deixam de olhar o marido como homem, que colocam no seu filho todos os seus sonhos, esquecendo tudo mais que as rodeia.
Acredito em todos os clichés existentes relativos à maternidade. Acredito que no dia em que isso me bater à porta irei sentir um amor especial e irei fazer de tudo para ser a melhor mãe que aquela criança possa ter. Mas lutarei para não deixar de ser a pessoa que sou, com os sonhos que tenho. Continuarei a querer interessar-me pelas futilidades que me fazem rir, por acompanhar as temporadas das Kardashians, por espreitar as novidade online da Zara, e por querer saber o que se passa na vida das minhas amigas. Aliás, em brincadeira com uma grande amiga minha, já lhe fui dizendo muitas vezes que se eu me tornar naquelas mães que só sabem falar no cocó e no xixi dos meninos que ela tem toda a autorização do mundo para me esbofetear :) .
Triste fico ao sentar-me a uma mesa de café, entre amigos, e nunca (ou quase nunca) me perguntarem como estou eu, ou mesmo o que tenho feito. Como se a minha vida não fosse interessante só porque não tenho alguém que me chame Mãe. Esta é sim a parte que custa mais quando se é a única sem filhos.
Se já me habituei? Talvez sim. Fiquei sempre super feliz quando as novidades dos bebés chegaram (da última vez chegou mesmo a dar-me um ataque de choro tipo novela mexicana!). Fico feliz por acompanhar o crescimento dos meus sobrinhos. Por perceber e sentir que são crianças felizes. Acima de tudo, fico feliz pelas minhas amigas porque sei que era algo que desejavam muito. E por isso mesmo, gostava de sentir que também ficam feliz por mim, pelos sonhos que tenho, mesmo que possam ser diferentes dos seus. Porque quando somos verdadeiramente amigos, aceitamos o outro como ele é e ficamos felizes com aquilo que o faz mais feliz.
Um beijo,
Mia
p.s. sei que é um post assim a puxar um bocadinho para o grande mas ás vezes sabe bem desabafar ...