Night

24 de junho de 2014
"Contra uma parede estava o teu corpo, de braços cruzados e olhar no vazio. Sinais de inquietude. Distância e um pedido, não te aproximes. Estou bem assim? Estás. Não te aproximes por favor. Não te aproximes de mim, não mais que isso. Parado ficara, numa distância segura, e os olhares cruzaram-se de novo, e o corpo tremia. Não estava frio mas o corpo tremia. Os corpos. Plural. Mas porque não? Porque não? Não te aproximes por favor, porque se me tocares desfaço-me, se me tocares desfaleço, e não posso, agora não posso, e a parede a segurar-te, e o chão a suster-me, o ar a pesar-nos, os olhares a ligar-nos. E as mãos, as quatro, sem saber muito bem onde se esconder, e tu a quereres as minhas mãos nas tuas costas, e o silêncio a ecoar naquele espaço, a pressão tão grande, tão grande, inspirar era um turbilhão, expirar um tornado, e não me toques, insistias que não te tocasse para não desapareceres, para não derreteres, e eu dei um passo atrás e respeitei, e enquanto descruzas os braços e te vejo afastar da parede atirada em direcção a mim já só te consigo ouvir dizer que se foda, desfaz-me."

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