sem pedir autorização apareceste no meio da minha vida. sem saberes como, prendeste-me. talvez não tenhas feito de propósito. bastou o meu coração por ti perdido. fizeste-me conhecer um mundo que não sabia poder existir. o teu mundo, no fim de tudo. precisei de conjugar todas as forças, todas as armas, todas as defesas. tive de fingir ser eu para não me deixar arrastar. sem saber como, eras o meu engano. roubaste-me um pouco de tudo. com os olhos, os dedos finos, e sempre de novo as palavras proibidas. todas as palavras, todos os nomes. eu só queria deixar de ser eu. obrigaste-me a todas as coisas que sem ti não faria. vivia de murmúrios e não tinha fome. roubaste tudo o que havia em mim para roubar, sempre com o teu sorriso no escuro. foste todos, e aquele que me enchia de terror. como nada tinha, talvez nada tivesse a perder. só que depois existias tu, com tanto existir que as pessoas e as coisas em volta deixavam de existir. só o medo que tinha de ser feliz e que tu reparasses nisso. era esse o medo que vivia em segredo no meu coração. toda eu estremecia. continuo a ouvir-te em silêncio. uma luta feroz de mim para comigo. é inútil saberes o que quer que seja. o terror de ficar sem ti. prendeste-me, agora sê consequente, eu não pretendo escapar das tuas mãos.
[pedro paixão]
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