4 de dezembro de 2012

"Ela, dentro de mim, dizia-me amor. Chamava-me. Amor. Olhava com olhos preocupados. Olhei-a e fui eu que lhe disse não te preocupes. Disse-lhe hoje sei que não serás mais minha do que já és, porque és tanto, porque se não fosse o teu rosto seria muito mais infeliz, pois seria ignorante, porque se não fosse o teu olhar, não conhecia a beleza e chamaria belo ao que apenas é indiferente. Disse-lhe hoje sei que és absolutamente minha, porque te escrevo, porque te vejo, porque estás dentro de mim, e essa distância insuperável é um passo pequeno que dou sem sentir. Disse-lhe hoje sei que te amo. Ela estava feliz dentro de mim. Eu sentia que as palavras que lhe podia dizer eram ridículas. Hoje sei que te amo era ridículo. És absolutamente minha era ridículo. No entanto, ela estava feliz dentro de mim e eu sabia que aquelas eram as únicas palavras que podia dizer. Apenas podia dizer hoje sei que te amo, apenas podia dizer és absolutamente minha, porque tinha uma certeza profunda e porque aquelas eram as únicas palavras que podia dizer. Ela estava feliz dentro de mim. Eu não estava triste." 

Uma Casa na Escuridão (2002) - José Luís Peixoto


 

Um comentário

© 2019 Mia Relógio. Tecnologia do Blogger.